Esp. Cinegéticas

1.- LISTAGEM DDAS ESPÉCIES CINEGÉTICAS

Caça Maior
       ·    Corço (Capreolus capreolus)
       ·    Gamo (Cervus dama)
       ·    Javali (Sus scrofa)
       ·    Muflão (Ovis ammon)
       ·    Veado (Cervus elaphus)
Caça Menor
       ·     Mamíferos
               o Coelho bravo
               o  Lebre (Lepus granatensis)
               o  Raposa (Vulpes vulpes)
               o  Saca - Rabos (Herpestes ichneumon)
       ·    Aves Sedentárias
               o  Faisão (Phasianus colchicus)
               o  Gaio (Garrulus glandarius)
               o  Gralha-Preta (Corvus corone)
               o  Pega (Pica pica)
               o  Perdiz-Vermelha (Alectoris rufa)
               o  Pombo-da-Rocha (Columba livia)
       ·    Aves Migradoras ou Parcialmente Migradoras
               o  Arrabio (Anas querquedula)
               o  Codorniz (Coturnix coturnix)
               o  Estorninho-Malhado (Sturnus vulgaris)
               o  Frisada (Anas strepera)
               o  Galeirão (Fulica atra)
               o  Galinha-d’água (Gallinula chloropus)
               o  Galinhola (Scolopax rusticola)
               o  Marreco (Anas querquedula)
               o  Marrequinha (Anas crecca)
               o  Narceja-comum (Gallinago gallinago)
               o  Narceja-galega (Lymnocryptes minimus)
               o  Negrinha (Aythya fuligula)
               o  Pato-real (Anas platyrhynchos)
               o  Pato-trombeteiro (Anas clypeata)
               o  Piadeira (Anas penelope)
               o  Pombo-Bravo (Columba oenas)
               o  Pombo-Torcaz (Columba palumbus) 
               o  Rola-comum (Streptopelia turtur)
               o  Tarambola-dourada (Pluvialis apricaria)
               o  Tordeia (Turdus viscivorus)
               o  Tordo-comum (Turdus philomelos)
               o  Tordo-ruivo (Turdus iliacus)
               o  Tordo-zornal (Turdus pilaris)
               o  Zarro-comum (Aythya ferina)







2. - ALGUNS ELEMENTOS SOBRE AS ESPÉCIES CINEGÉTICAS

  neste tópico vou postar a Fauna Cinegética, seja Caça Menor (Sedentárias e Migratórias)e Caça Maior, que habitualmente caçamos em Mondim de Basto. Procurarei fazer um post para cada espécie.

A) (Aves Migradoras, Parcialmente Migradoras e Sedentárias). 

1.

 Narceja-comum (Gallinago gallinago)



É uma ave de 27 cm de comprimento, bico comprido (cerca de 6,5 cm) e cauda relativamente clara.
Embora a narceja-comum seja muito difícil de observar de perto, é facilmente identificada pelo seu voo, marcadamente ziguezagueante e pelo seu grito breve e muito característico emitido quando levanta voo, o chamado beijo da narceja.

São aves que habitam zonas alagadiças e são caracterizadas – assim como a galinhola – pelo seu grande bico, e pernas e pescoço relativamente curtos. São pouco sociáveis e a sua plumagem mosqueada de castanho, amarelo e preto torna-as quase invisíveis.

In: Carta de Caçador, Manual para Exame

2.

Narceja-galega (Lymnocryptes minimus)




A narceja-galega é também muito difícil de ser observada, mas distingue-se facilmente da narceja-comum por ser consideravelmente mais pequeno (19 cm de comprimento), por ter um bico mais curto (cerca de 4 cm) e cauda escura; além destas diferenças morfológicas, a narceja-galega apresenta ainda outros caracteres que a distinguem das outras narcejas: o seu voo é mais lento e mais directo e quando levanta é geralmente silenciosa.
São aves que habitam zonas alagadiças e são caracterizadas – assim como a galinhola – pelo seu grande bico, e pernas e pescoço relativamente curtos. São pouco sociáveis e a sua plumagem mosqueada de castanho, amarelo e preto torna-as quase invisíveis.

In: Carta de Caçador, Manual para Exame
1.

Galinhola (Scolopax rusticola)



Com cerca de 35 cm de comprimento, asas largas e arredondadas, bico comprido e direito a galinhola é uma ave solitária e difícil de observar quer devido à sua cor bastante mimética quer ainda devido ao seu período de actividade, fundamentalmente crepuscular e nocturno.
Com uma silhueta muito particular, também o voo é bastante característico: a galinhola voa rápida e silenciosamente entre as árvores, chamando então a atenção a sua figura atarracada de asas redondas e bico apontado para o solo; ao levantar voo, as suas asas produzem um zumbido muito peculiar.
É uma ave migradora, só se encontrando em Portugal Continental durante os meses de Inverno, indo criar nos países do Centro e Norte da Europa; é sedentária nos Açores.

Habitat e Alimentação
As galinholas encontram-se geralmente nos bosques com vegetação arbustiva suficiente para lhes fornecer coberto; a existência de terras frescas e húmidas é também um factor importante, pois é preferencialmente neste tipo de zonas que elas se alimentam.
A sua alimentação é constituída essencialmente por minhocas, mas também por insectos, pequenos moluscos e mesmo por diversos grãos e fragmentos e vegetais.

In: Carta de Caçador, Manual para Exame 

3.

Estorninho-Malhado (Sturnus vulgaris)



O estorninho-malhado é uma pequena ave (25 cm de comprimento) de cor negra, com reflexos verde e púrpura e que no Inverno – altura do ano em que se encontra em Portugal – tem a plumagem densamente salpicada de cinzento.
Estes pássaros estão associados quer às orlas dos bosques ou florestas quer aos terrenos de cultura; barulhentos e bons imitadores, inquietos, gregários, juntam-se nas dormidas em bandos de milhares de indivíduos.
Há em Portugal um outro estorninho, o estorninho-preto (Sturnus unicolor), muito semelhante ao estorninho-malhado (de Verão tem uma plumagem preta e de Inverno só muito levemente manchada), residente (encontra-se na Península Ibérica e no Norte de África durante todo o ano) e que devido a convenções internacionais é proibido caçar.

In: Carta de Caçador, Manual para Exame

4.

Codorniz (Coturnix coturnix)

Com cerca de 18 cm de comprimento, a codorniz é o mais pequeno galináceo europeu, sendo bastante parecida com um perdigoto. A cor geral de ambos os sexos é a parda, com dorso e flancos listados. O macho apresenta a garganta com riscas negras, enquanto que a fêmea a tem amarelada, sem riscas, e apresenta o peito muito manchado.
É uma ave muito difícil de ser vista, levantando com bastante dificuldade, num voo curto e baixo; na realidade, o contacto mais vulgar com a codorniz é o auditivo; o seu canto, que se pode ouvir quer de dia quer de noite, é bastante característico e invulgarmente forte para uma ave tão pequena.


A codorniz é uma migradora parcial. O seu ciclo migratório é bastante complexo. Além de longos, médios, e curtos migradores, há também indivíduos sub-sedentários. Em Portugal, a chegada das primeiras vagas migratórias ocorre a partir de Março, com um máximo em Abril/Maio, sendo que as vagas migratórias de Outono se iniciam em Agosto, sucedendo-se até Dezembro, com uma quebra em Novembro. No sul do país e nos Açores pode ser encontrada todo o ano.

Habitat e Alimentação
Campos cultivados, searas, pastos e mesmo espaços abertos em bosques, onde a espécie disponha de recursos alimentares suficientes, aliás semelhantes aos da perdiz.



Comportamento e Reprodução
Nidifica no solo, em áreas bem providas de vegetação, geralmente campos de cereais , restolhos, etc.
O ninho não passa de uma ligeira depressão forrada com material vegetal; a criação ocorre geralmente de meados de Maio e Junho, o número de ovos é em média de 10 e a incubação (levada a cabo só pela fêmea) dura entre 16 a 21 dias; os pintos começam a voar cedo e com 2 meses podem já migrar juntamente com os adultos.

Ordenamento da espécie
A codorniz é uma espécie cinegética muito apreciada, existindo caçadores verdadeiramente especializados na sua caça. Algumas práticas agrícolas, pastorícia, tratamentos fitossanitários e técnicas de cultivo condicionam a utilização do habitat e influenciam negativamente a distribuição das populações. Para minimizar estes impactos:
- Favoreça a diversidade do habitat tipo, implantando pequenas parcelas com culturas forrageiras destinadas à fauna ou pequenas áreas sem mecanização agrícola.
- Use de cuidados especiais nas ceifas das colheitas, sendo preferível ceifar de dentro para fora ou realizá-la por faixas. É aconselhável a colocação de dispositivos na frente de tractores ou ceifeiras mecânicas que afugentem os animais escondidos nas searas; se possível, realize os cortes a mais de 30 cm de altura.
- Não abuse dos pesticidas e herbicidas, sendo aconselhável a utilização de produtos com baixa toxicidade para a fauna selvagem e deixe uma faixa exterior sem tratamento.
- O tratamento dos terrenos marginais deve ser evitado.
- Utilize menores densidades de sementes nas margens das parcelas a cultivar.
- É desaconselhável realizar a queima dos restolhos. Caso o faça é preferível realizá-la por faixas e não em círculos, a fim de possibilitar a fuga de animais.
- Evite que os cães e os gatos vagueiem pelos campos.

In: Carta de Caçador, Manual para Exame 


5.

Rola-comum (Streptopelia turtur)



Ave da mesma família dos pombos, distingue-se destes por ser mais pequena (28 cm de comprimento) e de silhueta mais esbelta; em voo nota-se o batimento de asas mais irregular e a cauda negra com barra terminal branca.
É uma ave migradora que, invernando no continente africano, vem nidificar à Europa; a sua entrada dá-se a partir do mês de Abril e chega até ao sul da Escócia e ao norte da Alemanha.
De fins de Julho a fins de Setembro, e mesmo princípios de Outubro, parte para a sua área de Inverno, na África tropical (Gâmbia, Senegal, norte da Nigéria, Chade, Sudão, Abissínia e Eritreia), registando-se as grandes entradas nestes países em meados de Setembro.
Habitat e Alimentação
É uma espécie que prefere matas densas alternando com campos abertos (searas e pastos).
É uma ave granívora e a sua alimentação baseia-se em sementes de plantas espontâneas e de plantas de cultivo (girassol, tremocilha, etc.), cereais, mas também como insectos, embora em pequena percentagem.

Comportamento e Reprodução
As rolas são normalmente vistas aos pares ou em grupos muito pequenos. São aves tímidas mas que se fazem ouvir de forma notável na época de acasalamento.
Os primeiros ninhos são feitos em Maio, mas encontram-se ninhos com ovos ou juvenis mesmo em princípios de Agosto. São construídos rudimentarmente com gravetos entrecruzados, em árvores várias e também em silvados, tojos e arbustos diversos. A postura é de dois ovos, raramente um; a incubação é feita por ambos os sexos e dura 13 a 14 dias.

Ordenamento da Espécie
A rola é uma espécie cujos efectivos variam de acordo com os fluxos de migração e taxas de sobrevivência pós e pré-nupcial, pelo que existem os chamados anos bons e maus de rolas.
No entanto, dado ser uma espécie considerada vulnerável, interessa realçar alguns aspectos no âmbito do seu ordenamento que possam contribuir para a sua conservação, nomeadamente:
- O período venatório deve respeitar a última fase de reprodução desta espécie.
- Não se deve caçar nos bebedouros e pontos de água, assim como se deve respeitar uma faixa de protecção de pelo menos 100 metros.
- As culturas atractivas, comedouros e outros dispositivos que visem concentrar rolas com fins venatórios são desaconselháveis, dado contribuírem para um abate excessivo, para além de terem consequência na sua estrutura populacional, nomeadamente a relação adulto/juvenis em desfavor destes.
- Manutenção e criação de sebes vivas com estrato arbóreo e arbustivo bem desenvolvido (incremento dos habitats preferenciais de nidificação).
In: Carta de Caçador, Manual para Exame 

6.

 Tordeia (Turdus viscivorus)



É a maior das quatro espécies (26 cm de comprimento); a parte superior do corpo é de cor cinzenta acastanhada, o peito é claro com pequenas manchas castanhas escuras arredondadas e bem evidentes; em voo vê-se a parte inferior das asas de cor branca.
Espécie sedentária.
Pássaro de tamanho médio, bico relativamente fino, adaptado a uma alimentação baseada em invertebrados e frutos.
São aves cujo habitat está geralmente ligado a zonas arborizadas ou às suas orlas.

In: Carta de Caçador, Manual para Exame

7.

Tordo-comum (Turdus philomelos)



Pouco maior que o tordo-ruivo (22 cm de comprimento), apresenta a parte superior do corpo de cor acastanhada e a parte inferior das asas (visível quando em voo) amarela alaranjada.
Embora em Portugal seja invernante, já existem populações sedentárias a partir do Norte de Espanha.
Pássaro de tamanho médio, bico relativamente fino, adaptado a uma alimentação baseada em invertebrados e frutos.
São aves cujo habitat está geralmente ligado a zonas arborizadas ou às suas orlas.

In: Carta de Caçador, Manual para Exame

8.

Tordo-ruivo (Turdus iliacus)



A mais pequena das quatro espécies (21 cm de comprimento), tem as sobrancelhas de cor branca amarelada bem evidente, a parte inferior do corpo raiada (e não sarapintada), flancos e parte inferior das asas (só visível em voo) de cor arruivada.
Espécie que vem a Portugal passar o Inverno, nidifica nos países do Norte da Europa.
Pássaro de tamanho médio, bico relativamente fino, adaptado a uma alimentação baseada em invertebrados e frutos.
São aves cujo habitat está geralmente ligado a zonas arborizadas ou às suas orlas.

In: Carta de Caçador, Manual para Exame


9.

Tordo-zornal (Turdus pilaris)



Um pouco mais pequeno que a tordeveia (25 cm de comprimento) o tordo zornal apresenta cabeça e uropígio cinzentos, costas castanhas arruivadas, cauda quase preta; em voo, mostra a cor branca da parte inferior das asas.

Espécie invernante em Portugal, vai nidificar nos países do Norte da Europa.
Pássaro de tamanho médio, bico relativamente fino, adaptado a uma alimentação baseada em invertebrados e frutos.
São aves cujo habitat está geralmente ligado a zonas arborizadas ou às suas orlas.

In: Carta de Caçador, Manual para Exame

10.

Pombo-Bravo (Columba oenas)



Sensivelmente do mesmo tamanho do pombo-da-rocha, não apresenta, ao contrário deste, uropígio branco e barras alares negras. Identifica-se pelas pontas das asas negras e dorso nitidamente mais escuro do que o do pombo-da-rocha. 
Espécie também residente, mas das três espécies em causa é a que apresenta uma distribuição menos alargada no nosso país, restrita sobretudo ao interior.

Habitat e Alimentação
O habitat do pombo-bravo está especialmente relacionado com zonas arborizadas (bosques ou florestas) e a sua alimentação baseia-se em grãos e em menor percentagem em bagas e bolotas.

Comportamento e Reprodução
A nidificação faz-se geralmente em buracos de árvores, de edifícios ou mesmo de rochas. Normalmente as posturas – duas ou três por ano – são de dois ovos, raramente um, e a incubação é de 16 a 18 dias.

In: Carta de Caçador, Manual para Exame

11.


Pombo-Torcaz (Columba palumbus)

Considerando como antepassado dos nossos pombos mansos, este pombo, bastante mais pequeno (33 cm de comprimento) e esbelto que o torcaz, apresenta também outras características que permitem uma fácil distinção daquele: ausência das manchas brancas no pescoço e nas asas, duas barras pretas nas asas, sobretudo visíveis quando em voo, e uropígio branco.
É uma espécie residente, apresentando uma distribuição alargada a quase todo o país embora localizada devido ao tipo de habitat preferencial.


Habitat e Alimentação
O habitat do pombo-da-rocha, tal como o nome indica, está sobretudo ligado a zonas rochosas, incluindo a orla marítima e áreas adjacentes; a sua alimentação é à base de grãos e sementes.


Comportamento e Reprodução
Nidifica nas falésias ou mesmo em edifícios, geralmente em colónias. O ninho é feito de uma camada delgada de pequenos ramos e raízes e é construído por ambos os sexos; normalmente o macho transporta o material e a fêmea coloca-o. A postura é de dois ovos, raramente um e a incubação dura 17 a 19 dias.

In: Carta de Caçador, Manual para Exame

12.

Pombo-da-Rocha (Columba livia)



Considerando como antepassado dos nossos pombos mansos, este pombo, bastante mais pequeno (33 cm de comprimento) e esbelto que o torcaz, apresenta também outras características que permitem uma fácil distinção daquele: ausência das manchas brancas no pescoço e nas asas, duas barras pretas nas asas, sobretudo visíveis quando em voo, e uropígio branco.
É uma espécie residente, apresentando uma distribuição alargada a quase todo o país embora localizada devido ao tipo de habitat preferencial.

Habitat e Alimentação
O habitat do pombo-da-rocha, tal como o nome indica, está sobretudo ligado a zonas rochosas, incluindo a orla marítima e áreas adjacentes; a sua alimentação é à base de grãos e sementes.

Comportamento e Reprodução
Nidifica nas falésias ou mesmo em edifícios, geralmente em colónias. O ninho é feito de uma camada delgada de pequenos ramos e raízes e é construído por ambos os sexos; normalmente o macho transporta o material e a fêmea coloca-o. A postura é de dois ovos, raramente um e a incubação dura 17 a 19 dias.

In: Carta de Caçador, Manual para Exame

13.

Faisão (Phasianus colchicus)



Ave rara em Portugal, os efectivos existentes provêm de introduções.
O macho distingue-se facilmente da fêmea devido ao seu maior porte e à sua plumagem extremamente colorida.
Sendo de criação fácil em cativeiro, é por isso muito usado nos campos de treino de caça.

Habitat e Alimentação
O seu habitat é essencialmente constituído por campos de cereais orlados por bosques de folhosas, encontrando poucas condições naturais para sobreviver, no estado selvagem, em Portugal.
Tem uma alimentação variada, que engloba frutos secos e carnudos, rebentos, insectos e vermes.




In: Carta de Caçador, Manual para Exame 

14.

Gralha-Preta (Corvus corone)




Muito comum em zonas abertas, reúne-se em bandos mais notáveis nas dormidas.
Pode confundir-se com o corvo; no entanto o seu menor tamanho (46 cm de comprimento), o bico mais fino, a cauda cortada a direito (vista em voo), a sua maior sociabilidade e a sua voz menos grave são factores que a diferenciam daquele.
As gralhas – assim como o corvo – são pássaros grandes, normalmente de plumagem inteiramente preta, algumas vezes misturada com cinzento.
São geralmente consideradas das aves mais capazes de se adaptarem às alterações do meio ambiente onde vivem; por isso mesmo estão de certa forma ligadas à presença humana.
Das gralhas existentes em Portugal, só uma, a gralha-preta, está incluída na lista das espécies cinegéticas. Das restantes, a gralha-de-nuca-cinzenta e a gralha-de-bico-vermelho não se confundem facilmente com a gralha-preta. O mesmo não acontece com a gralha-calva que apresenta um tamanho muito semelhante ao da preta, podendo distinguir-se pela face esbranquiçada sem penas e pelo bico mais delgado e pontiagudo; de referir ainda que esta última espécie só está presente em Portugal durante o Inverno.



In: Carta de Caçador, Manuel para Exame

15.

Gaio (Garrulus glandarius)



Pássaro de tamanho médio (cerca de 36 cm de comprimento), comum em bosques de resinosas e de folhosas e mesmo jardins.
É o mais colorido dos nossos corvídeos; destacam-se da sua plumagem de tom geral castanho rosado, o uropígio brancos, as penas azuis raiadas de preto e espelho branco nas asas. É também característica a sua silhueta em voo.


Normalmente solitário – embora possa viver em grupos fora da época da reprodução – o gaio é uma ave irrequieta e que durante a Primavera se faz ouvir bastante, por vezes imitando mesmo outras aves.
A alimentação é semelhante à dos outros corvídeos.

In: Carta de Caçador, Manual para Exame

16.

Perdiz-Vermelha (Alectoris rufa)



Excelente andarilha, a perdiz è uma ave de tamanho médio (rondando os 35 a 40 cm de comprimento), com os flancos caracteristicamente estriados de castanho e branco, uma linha preta contornando o branco das faces e descendo até ao peito, onde forma um colar negro. Deste partem estrias da mesma cor que salpicam o cinzento do peito. As costas e a parte superior da cabeça são num quente tom de castanho, o bico e as patas vermelhos.
Apesar de não ser fácil a distinção entre o macho e a fêmea, as perdizes possuem no entanto algumas características que, em observação simultânea, permitem a distinção dos sexos com relativa segurança:
- Normalmente o macho é maior e mais pesado que a fêmea (peso médio dos machos: 483 g; peso médio das fêmeas: 395 g);
- Regra geral, a cabeça dos machos é mais volumosa do que a das fêmeas;
- Os machos apresentam tarsos mais compridos e grossos, esporões com base larga e extremidade arredondada, enquanto que as fêmeas têm tarsos mais curtos e delgados e, quando apresentam esporões, estes têm a base estreita e são bicudos.
A distinção entre animais adultos e juvenis (menos de 1 ano) pode fazer-se pela observação das rémiges primárias – as dez penas da extremidade da asa:
- O juvenil inicia a muda no primeiro mês de vida, a qual se prolonga até Outubro e Novembro – mas não há substituição das duas últimas rémiges. Estas duas penas são pontiagudas e podem apresentar uma pequena pinta branca na extremidade;
- O adulto inicia a muda de todas as rémiges primárias duas ou três semanas antes do juvenil; as duas últimas penas, quer no caso de ainda não terem sido mudadas quer no caso de já serem novas, têm a extremidade arredondada.



Habitat e Alimentação
É uma ave que prefere especialmente as zonas de culturas cerealíferas, mas também se pode encontrar na periferia das áreas incultas ou matos, por vezes também em vinhas.
A alimentação, essencialmente insectívora no primeiro mês de vida, evolui radicalmente por forma a englobar produtos de origem quase só vegetal: grãos (trigo, cevada, aveia), bolota e também folhas, rebentos, bagas, flores, e raízes de uma grande variedade de plantas espontâneas.

Comportamento e Reprodução
O acasalamento destas aves começa geralmente em Janeiro e Fevereiro no sul do país, Fevereiro e Março no norte, podendo haver alterações conforme as condições atmosféricas; fazem o ninho geralmente no chão, com o fundo simplesmente coberto de plantas secas, junto a tufos de ervas, debaixo de ramos secos ou mesmo junto a linhas de água ou caminhos.
A postura dos ovos faz-se durante os meses de Março a Abril no sul e de Abril a Maio no norte; o número de ovos de cada ninho é variável, desde os 8 aos 23, com um valor médio de 12 ovos; a incubação, que começa depois da postura do último ovo, dura cerca de 23 dias. É conhecida a construção de um segundo ninho – provavelmente quando acontece a destruição do primeiro – o qual pode por vezes ser incubado pelo macho.
As eclosões começam no fim de Maio e Junho, havendo um máximo na primeira quinzena de Junho no sul e nos finais do mês no norte; os perdigotos logo que nascem abandonam o ninho (espécie nidífuga), mostrando uma notável vivacidade ao seguirem os adultos na procura de alimentos.
Durante o Verão e até à nova época de acasalamento as perdizes deslocam-se em bandos.



Ordenamento da Espécie
Numa população bem gerida, por cada ninho de perdiz, chegam em média à idade adulta 5 perdigotos; para se atingir este número há que seguir certas regras, tais como:
- Pôr à disposição da perdiz alimento, água e abrigo.
- Cuidar da maneira como são feitas as ceifas.
- Evitar o abuso de pesticidas.
- Vigiar cuidadosamente os rebanhos e as varas, tendo em especial atenção aos cães de pastor.
- Evitar o excesso de predadores e que não significa a sua eliminação mas sim o seu controle.
- Evitar a deambulação de cães e gatos vadios que constituem as maiores populações de predadores em Portugal.
Para o nível da população ser mantido, não pode abater-se anualmente mais do que 50% dos efectivos.
A perdiz-vermelha ou perdiz-comum pode confundir-se com a perdiz-cinzenta ou charrela (Perdix perdix). Esta espécie, que pode ser encontrada no norte do país, é muito rara em Portugal, sendo por isso mesmo protegida; importa ao caçador conhecê-la para não a abater.
Um pouco mais pequena do que a perdiz-vermelha, a charrela distingue-se desta pelas suas faces cor de ferrugem, o pescoço cinzento e as patas amareladas; o macho apresenta no peito uma mancha castanha em forma de ferradura.

In: Carta de Caçador, Manual para Exame
nota: texto retirado do "GForum Digital".


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B).  Caça Menor (Mamíferos)

1.

Coelho-Bravo (Oryctolagus cuniculus)



O Coelho-Bravo é uma das espécies cinegéticas portuguesas de maior importância e constitui, juntamente com a perdiz, a caça por excelência para o caçador português; um dos motivos para esta situação reside sem dúvida na facilidade com que se reproduz e nos números elevados que as suas populações atingem.
Pode dizer-se que no nosso país o coelho se encontra distribuído por quase todo o território.
É um pequeno herbívoro (cerca de 40 cm de comprimento) de cor acinzentada com laivos amarelos acastanhados na nuca e nas patas, e face anterior esbranquiçada; as orelhas são relativamente curtas (menores que o comprimento da cabeça). Corre em apertados ziguezagues.

Habitat e Alimentação
Vive em zonas onde o mato é abundante, preferindo os terrenos secos e arenosos mais fáceis para a construção de covas. A alimentação é constituída essencialmente por plantas herbáceas, raízes, caules, grãos e mesmo cascas suculentas de algumas árvores.
Comportamento e Reprodução
São animais de hábitos nocturnos e crepusculares, embora sejam vistos muitas vezes durante o dia. Vivem em colónias, em galerias extensas e muito ramificadas.
A fêmea, quando prenhe, escava uma toca especial, uma galeria simples e profunda situada a uma certa distância da colónia, com uma única abertura e forrada com pêlos que arranca do seu próprio abdómen – toca de reprodução. Depois do nascimento dos filhos, a fêmea sempre que se ausenta da toca tapa a abertura com terra para os machos não entrarem. Três semanas após o nascimento, muda os filhos para a toca normal – toca de habitação.
Pode considerar-se que o coelho se reproduz durante quase todo o ano, embora exista uma época bem marcada em que a reprodução é mais intensa – Março a Maio.
O período de gestação é de 28 a 30 dias e, em média, cada fêmea tem 3 a 5 ninhadas por ano, produzindo em geral por ninhada 2 a 7 láparos, cegos, surdos e sem pêlo, pesando cerca de 60 g (valor que duplica ao fim de dois dias). O aparelho auditivo está completamente desenvolvido aos 8 dias e abrem os olhos aos 10 dias.
Com 6 meses de vida os coelhos são adultos estando aptos a reproduzirem-se. É uma espécie que tem grande longevidade, podendo viver até aos 10 anos.



Ordenamento da Espécie
As seguintes medidas podem contribuir para o ordenamento do coelho-bravo e a compatibilização das suas populações com as actividades agrícolas existentes.
- Ao nível das necessidades vitais, dinâmica populacional e compatibilização com as práticas agrícolas:
Construa tocas ou “murouços” em terrenos onde seja difícil escavar;
Mantenha uma paisagem em “mosaico” (zonas florestais e de mato intercaladas com áreas agricultadas);
Evite que os cães e os gatos vagueiem pelos campos;
Realize povoamentos de forma criteriosa, só em caso de necessidade e com exemplares provenientes de zonas próximas do local a repovoar;
Utilize dispositivos de protecção individual nas plantas para evitar possíveis prejuízos em plantações recentes de espécies florestais ou frutícolas;
Realize culturas “tampão” ou “actrativas” em zonas junto das colónias para desviar o seu impacto nas culturas existentes.
- Ao nível das doenças epidémicas:
Queime os coelhos vítimas de doenças:
Nos repovoamentos proceda aos seu controlo sanitário e vacinação;
Não limpe no campo os coelhos caçados, nem dê as vísceras aos cães.
Esta espécie representa uma pedra fundamental no equilíbrio ecológico do habitat mediterrânico, pois o seu desaparecimento prejudicaria a sobrevivência de alguns predadores que têm nela a base da sua dieta alimentar.
Actualmente esta espécie é bastante menos abundante do que já foi, sem dúvida devido à mixomatose. A mixomatose, que não é transmissível ao Homem, foi introduzida na Europa, por volta de 1950, por um francês que inoculou voluntariamente este vírus em coelhos que danificavam as culturas agrícolas da sua propriedade. Há estirpes de vírus desta doença que matam só uma pequena percentagem dos animais atingidos enquanto que outras estripes chegam a matar 99% dos indivíduos atacados.


In: Carta de Caçador, Manual para Exame

2.

Lebre (Lepus granatensis)

A lebre pertence à mesma família do coelho, o que se reflecte aliás em algumas semelhanças morfológicas, embora se distinga facilmente pelo maior tamanho (50 a 60 cm), pela cor amarela acastanhada (mais acentuada nas partes superiores), as orelhas grandes, maiores que o comprimento da cabeça e negra na extremidade; outra das características mais notáveis é o grande comprimento dos seus membros posteriores, o que lhe permite adquirir grande velocidade (chega a atingir 60 km/hora); nada bem e trepa sem dificuldades,
Em Portugal ocorre em quase todo o território, sendo geralmente mais abundante na Beira Interior e a sul do Tejo.

Habitat e Alimentação
A lebre prefere os pousios e as terras cultivadas, sobretudo planas, húmidas e pouco cobertas.
É uma espécie herbívora, sendo a base da sua alimentação semelhante à do coelho.
Comportamento e Reprodução
A lebre, contrariamente ao coelho, é um animal solitário e não vive em tocas mas acama, quer em bosques protegidos, quer em terrenos abertos, com vegetação adequada.
Normalmente tem 1 a 3 ninhadas por ano; o período de gestação é de 42 a 44 dias e a ninhada é constituída por 1 ou 2 lebrachos (raramente 3), que nascem já de olhos abertos e com pêlo, sendo amamentados até ás 3 semanas.
Ordenamento da Espécie
Esta espécie parece ser extremamente vulnerável à intensificação da prática agrícola e, infelizmente, à prática da caça furtiva. Assim:
- Use de cuidados especiais nas ceifas das colheitas, sendo preferível ceifar de dentro para fora ou realizá-las por faixas. É aconselhável a colocação de dispositivos na frente de tractores ou de ceifeiras mecânicas que afugentem os animais escondidos nas searas.
- Não abuse de pesticidas e herbicidas, sendo aconselhável a utilização de produtos com baixa toxicidade para a fauna selvagem.
- É desaconselhável realizar a queima dos restolhos. Caso o faça, é preferível realizá-la por faixas e não em círculos a fim de possibilitar a fuga dos animais.
- Utilize dispositivos (reflectores fixos) que protejam as lebres de acidentes na rede viária, em especial nos caminhos de terra batida.
- Evite que os cães e os gatos vagueiem pelos campos. Estes são uma das principais causas da predação juvenil.
- É indispensável realizar censos das populações de lebres para correcta decisão da sua caça e sentido evolutivo das mesmas. Geralmente realiza-se um censo anual (Agosto/Setembro), sendo tecnicamente correcto, por norma, não caçar mais de 40% dos efectivos recenseados.
- Para evitar possíveis prejuízos em plantações recentes de espécies florestais ou frutícolas, utilize dispositivos de protecção individual nas plantas.

In: Carta de Caçador – Manual para Exame

3.

Raposa (Vulpes vulpes)



Universalmente conhecida, heroína de fábulas e contos populares, a raposa é sem dúvida o mais “doméstico” dos mamíferos de médio porte da fauna bravia portuguesa.
Com um comprimento entre 50 e 80 cm e cauda comprida (cerca de 40 cm), pesa normalmente de 4 a 6 kg; os machos são mais pesados e por vezes podem distinguir-se das fêmeas por apresentarem uma cabeça mais forte e menos afilada. A pelagem, sobejamente conhecida de todos, é muito variável na cor e apresenta também variações sazonais: no Inverno o pêlo é mais espesso e denso do que no Verão.
Encontra-se praticamente por todo o país, com maior incidência nas áreas rurais, muito embora acompanhe o Homem nos arredores das cidades.

 Habitat e Alimentação
Da planície à montanha, dos maciços florestais às áreas agrícolas, tudo – ou quase tudo – convém a esta espécie; aliás, este ecletismo também se manifesta na sua alimentação, em que tudo se encontra, do vegetal ao animal, dos peixes aos mamíferos, sendo também as lixeiras uma fonte importante de alimentação.


Comportamento e Reprodução
Animais crepusculares ou nocturnos, solitários, as raposas só se vêem em grupo quando os machos perseguem as fêmeas durante o cio que ocorre geralmente em Janeiro; à gestação de 50 a 60 dias, segue-se o nascimento de 3 a 6 crias.


In: Carta de Caçador, Manual para Exame

4.

Saca - Rabos (Herpestes ichneumon)



Provavelmente introduzido na Península Ibérica pelos árabes, o Sacarrabos é um carnívoro diurno de médio porte, comum na metade sul do País. É conhecido pela sua capacidade de capturar cobras e pela sua forma peculiar de deslocação em grupo.

IDENTIFICAÇÃO E CARACTERÍSTICAS

O Sacarrabos Herpestes ichneumon é um carnívoro de médio porte castanho-acinzentado que, juntamente com a Geneta, representam a família Viverridae no nosso país. Também conhecido por mangusto, manguço ou escalavardo, tem um corpo alongado e de aspecto fusiforme, o focinho é pontiagudo, as patas são curtas e a cauda vai-se afunilando até à sua extremidade onde se encontra um pincel de pelos mais escuros. Tem uma altura no garrote de aproximadamente 20 cm, pesa 2-3 Kg, e tem um comprimento total de cerca de 90 cm, podendo a cauda chegar aos 50 cm. Na cabeça distinguem-se umas orelhas pequenas e arredondadas e uns olhos côr de âmbar que têm a particularidade de exibir uma pupila horizontal, caso quase único entre mamíferos e que revela hábitos diurnos. Não existe um dimorfismo sexual evidente entre machos e fêmeas embora os primeiros sejam um pouco maiores.

DISTRIBUIÇÃO E ABUNDÂNCIA

Esta espécie, que se pensa que tenha sido introduzida na Península Ibérica pelos árabes, tem origem etiópica e está presente na maior parte do continente africano e na Ásia Menor. Foi também recentemente introduzida numa ilha jugoslava. Na Península Ibérica está distribuida principalmente a SW. No nosso país é relativamente abundante no sul e o a norte já chega pelo menos à Serra da Estrela. Depois de um período em que deve ter sofrido uma regressão na primeira metade do século XX (a 'campanha do trigo' que devastou muito matagal mediterrânico), a espécie parece estar agora em alguma expansão provavelmente devido a 3 factores: o abandono de terras agrícolas e o ressurgimento de alguns matagais; a quase ausência dos seus predadores como o Lince-ibérico; por ter actividade principalmente diurna não compete directamente com outros predadores pelos mesmos recursos.

ESTATUTO DE CONSERVAÇÃO
Não ameaçada. É uma espécie cinegética de caça menor (Lei da Caça: D-L nº 251/92 de 12 de Novembro) que pode ser caçada a salto (entre Out-Dez) ou de batida (entre Jan-Fev). Pode ainda ser abatido no controlo de predadores (artigos 94-97 da Lei da Caça, cap. XI).


HABITAT

É um típico habitante dos matagais mediterrânicos, com subcoberto bastante denso (o seu focinho pontiagudo facilita-lhe a deslocação neste tipo de habitat) e, em geral, nas proximidades de linhas de água. Geralmente como toca utiliza luras abandonadas de coelhos que alarga com as fortes garras que possui nos cinco dedos.



 ALIMENTAÇÃO

O sacarrabos tem reflexos bastante rápidos o que lhe permite capturar ofídeos (cobras), inclusivé as espécies venenosas. No entanto, as suas principais presas são os pequenos mamíferos, nomeadamente os roedores e, sempre que disponíveis, também os lagomorfos (coelhos e lebres). Por ter hábitos diurnos, os répteis são também uma parte importante do seu espectro alimentar que inclui ainda insectos, anfibios, aves e matéria vegetal com valor energético.


REPRODUÇÃO

A época de acasalamento ocorre na Primavera seguindo-se um período de gestação de 84 dias, nascendo 2-4 crias entre Junho e Agosto. Os machos são poligâmicos podendo fecundar várias fêmeas. As crias ficam com a mãe até ao nascimento da ninhada seguinte, chegando a formar grupos de 7-9 indivíduos.


MOVIMENTOS

As áreas vitais do sacarrabos variam entre 0,5 e 5 Km2. A defesa efectiva dos territórios restringe-se ao espaço em redor dos seus abrigos.


CURIOSIDADES

As crias seguem a mãe em fila-indiana, cada uma com o focinho por baixo da cauda da que a precede, daí o nome sacarrabos (esta maneira peculiar de se deslocarem até levou ao equívoco de lhes chamarem cobra peluda). Também quando caçam em grupo, os sacarrabos apresentam a particularidade de rodearem a presa deixando-lhe poucas hipóteses de escapar.


LOCAIS FAVORÁVEIS DE OBSERVAÇÃO

O facto de ter hábitos diurnos e de ser relativamente abundante no sul do país torna a sua observação mais fácil que a dos outros carnívoros já apresentados (lince, raposa, geneta). Um passeio ao longo de uma linha de água será sempre uma boa ideia seguindo as indicações das fichas anteriores.
Miguel Monteiro
In: Naturlink (Naturlink)

c) Caça maior (mamíferos)

1.

 Corço (capreolus capreolus)

O Corço é o cervídeo de menor porte existente em toda a Europa. Primo afastado do veado, apresentou uma evolução ao longo dos séculos um pouco diferente da do seu primo Gamo, mas continuou a fazer parte da mesma família. No mundo leigo é conhecido por Bambi, o pequeno veado da banda desenhada que fez as alegrias da criançada.
Mas, apesar da toda a sua graciosidade e beleza, o Corço revela instintos tão apurados como os do mais bravio dos animais. Com uma capacidade visual fora do vulgar, o Corço consegue detectar um pequeno movimento a largas distâncias. Com um ouvido apuradíssimo sente o mais leve movimento ou o mais suave remexer da folhagem. Com um nervosismo só dele característico, este pequeno cervídeo consegue desconcertar o mais frio e calmo dos caçadores.
Apresentando uma altura ao garrote que raramente ultrapassa os 80 cm e uma facilidade de movimentação proporcionada pelas suas altas, esguias e resistentes patas, o corço consegue dissimular-se no mais elementar dos cobertos vegetais. Denotando uma elevada capacidade de adaptação, tanto o podemos encontrar a viver no mais denso das florestas do Norte da Europa, como nas amplas planícies abertas e cultivadas da Europa do Sul. E porque tanto agora está visível como no instante seguinte se ocultou sem sequer nos percebermos como, foi apelidado de "DUENDE da Floresta". 

Por tudo isto, a caça ao Corço provoca uma paixão enorme em todos aqueles que gostam de caçar de forma ética e rigorosa.
A sua alimentação (apesar de ser um herbívoro ruminante como os seus primos) consiste maioritariamente no consumo de plantas leguminosas de folha curta, larga e tenra, pelo que fácil se torna procurar os corços numa região onde estejam presentes: basta saber onde se encontra a sua alimentação preferida e observar, em diferentes momentos do dia, os campos onde se alimentam. 
Tal como os primos, apresenta o referido dimorfismo sexual (ver página do Veado), sendo o seu troféu constituído por um par de hastes com apenas três pontas: a anterior, a central e a posterior. As fêmeas parem igualmente uma cria por ano, sendo vulgar em regiões de grande abundância e qualidade de alimento, existirem várias parições gémeas. Contudo o seu período de gestação é muito superior ao do gamo e ao do veado; a época de reprodução acontece - nas regiões temperadas - entre meados de Abril e fins de Maio (nas regiões frias do norte da Europa o cio só acontece nos princípios de Agosto), mas as crias só nascem no princípio da Primavera seguinte. Este facto é devido a um fenómeno interessantíssimo que nos mostra como a Mãe Natureza protege os seus filhos: para garantir a maior possibilidade de sobrevivência das crias, as parições só se verificam no princípio da Primavera por ser esta a época em que a alimentação preferida é mais abundante, de maior qualidade e mais rica em nutrientes. Para isso as fêmeas beneficiam de uma implantação retardada do óvulo - os óvulos fecundados só se alojam no útero para iniciarem o seu desenvolvimento e darem origem ao embrião cerca de 4 a 5 meses após o momento da fecundação. Fenómeno este que só se verifica nos Corços.
Em Portugal o Corço esteve extinto em todos os terrenos de caça do território nacional, durante os três primeiros quartos do século passado. Apenas se conheciam raros afloramentos da espécie no distrito de Bragança, provenientes da proximidade com os terrenos coutados da vizinha Galiza, que, uma vez por outra, facilitavam o seu aparecimento em território nacional. Ao contrário do Gamo e do Veado a espécie não esteve introduzida em zonas fechadas (vedadas com rede ou muradas) porque por uma lado se desconhecia as suas necessidades em termos de habitat, e por outro porque a espécie não tinha procura e logo não tinha valor comercial. As raras experiências de introdução que se conhecem nesse período falharam redondamente porque as escolhas dos biótipos de introdução não foram as mais adequadas. 
O Corço é um animal que, devido às suas preferências alimentares consome pouca água, retirando-a quase exclusivamente do alimento que digere, pelo que necessita de um ambiente com um mínimo de 800mm de média de precipitação anual. Quando tal não acontece a espécie enfraquece, definha e os animais vão a pouco e pouco perecendo. 
Ao contrário do gamo e do veado, que apenas marcam e defendem um território antes e durante o cio, o Corço é um animal permanentemente territorial; só as condições adversas (em termos de alimentação ou tranquilidade) o fazem mudar de território. Talvez por este motivo os biólogos afirmem que o corço não se "dá" em áreas fechadas. Defendem estes que, ao demarcarem o território e com o o intuito de o defenderem permanentemente, os corços machos mais velhos perseguem continuamente os mais novos não lhes dando descanso. Estes concorrentes, por não poderem alimentar-se e descansar acabam por morrer, não sendo possível o desenvolvimento populacional da espécie como seria pretendido.
Dependendo do biótipo em que se encontram, da qualidade e quantidade de alimento disponível bem como da densidade populacional na região, os Corços machos podem exibir territórios que oscilam entre os 3/5 hectares até aos 50 ou mais hectares. Com base na minha experiência pessoal posso afirmar que observei territórios de 5 ha (em média) nos países da Europa de Norte, de cerca de 60 a 100 ha na Dinamarca e bastante mais extensos na região Galega (Espanha). 
Actualmente existem em Portugal algumas zonas de caça de tipo turístico, vedadas com rede de dois metros de altura onde os corços foram introduzidos e onde consta que se dão relativamente bem. Apesar de pessoalmente não conhecer essas zonas e apenas obter referências de duas ou três, verifica-se que nos dois últimos anos se cobraram troféus de grande qualidade sendo uma delas a progenitora do record de Portugal, bem como do troféu posicionado em segundo lugar. Estamos a falar de Medalhas de Ouro com 171,93 e 144,78 pontos CIC. 
Quanto às zonas abertas apenas tenho memória de uma introdução de 5 casais de corço na serra da Lousã, nos finais da década de 90 e com o patrocínio do Clube Português de Monteiros. Sobre o desenvolvimento desse núcleo, desconheço o que foi o seu futuro, pois nunca mais ouvi qualquer referência sobre o assunto. 
Para caçar Corços só há dois processos de caça : a aproximação e a espera. No que se refere à Montaria ou à Batida, desaconselho vivamente estes processos porque os corços, quando pressionados, deslocam-se de forma errática, em grande velocidade e com saltos que podem atingir uma dúzia de metros de comprimento, sendo muito difícil atirar-lhes com carabina, em movimento. E por este motivo recebeu a alcunha de "Traga Balas". 
Nos países nórdicos, quando se fazem batidas de caça maior em zonas onde existem corços, permite-se atirar com caçadeira carregada com cartuchos de chumbo grosso ( nº1, 2 ou 3), mas lá como cá, o zagalote é proibido. 
Quando se caça de aproximação há que ter cuidados redobrados e é não só importante seguir TODAS as recomendações mencionadas na explicitação deste processo de caça, como ainda mais alguns: 
- Em áreas florestadas as deslocações do caçador devem ser efectuadas sempre pelo bordo da floresta, mais para dentro do que para fora. 
- A movimentação deve ser feita muito lentamente e sempre utilizando o ambiente natural para nos ocultarmos.
- O vento TEM DE ESTAR SEMPRE NA CARA. 
- As observações devem ser efectuadas com binóculos de elevada qualidade óptica. 
- Deve privilegiar-se a observação das zonas abertas, prados naturais e culturas, que devem ser vistas, revistas e voltadas e ver. 
De igual modo devemos estar atentos às marcas de presença dos corços, nomeadamente aos rastos, excrementos e marcações de território.
E se a caçar de aproximação de repente ouvir um ladrar rouco e forte que se afasta, então caro amigo, isso significa que o Corço "deu" consigo antes que se tenha apercebido da presença do animal. O "ladrar" representa não só um sinal de aviso para os congéneres, como igualmente uma intimidação para os perigos desconhecidos. 

A espera realiza-se, normalmente, em mirador (palanque) elevado, meio aberto ou fechado, situado em local com vista para um campo de alimentação ou zona aberta. Trata-se de um processo muito mais descansado já que permite observar calmamente os animais que saem ao limpo sem que estes se apercebam e realizar um tiro seguro, apesar de muitas vezes as distâncias de tiro não serem as mais confortáveis. No entanto, pelo que ficou exposto, e pelas dificuldades da caça de aproximação, consideram os grandes caçadores ser a espera um processo de caça pouco desportivo. 
Apesar de estarmos a falar de um cervídeo de tão pequeno porte e que aparenta uma grande fragilidade, a verdade é que o cobro dos corços atingidos ou feridos de morte nem sempre se tem revelado tão fácil quanto se poderia pensar. Estamos em presença de duas situações: ou ficam "secos" ou fogem desenfreadamente para o zona de maior coberto vegetal (podendo percorrer por vezes grandes distâncias); devido aos saltos e velocidade da fuga, o rasto de sangue, sendo mínimo, fica muito espaçado e difícil de seguir. Por isso convém ter muita atenção à reacção do animal no momento do tiro. Em última instância a melhor opção é utilizar um cão de pista de sangue bem treinado. Finalmente e sobre os calibres mais apropriados para caçar o Corço, a tónica é posta nos calibres pequenos, médios no máximo. Tratando-se de um animal de pequeno porte, a utilização de um calibre médio pode destruir grandes quantidades de carne e assim subaproveitar a carcaça do animal que, diga-se de passagem, tem uma carne de excelente qualidade e de requintado sabor. Assim sendo os calibres mais adequados são o .222, todos os .223, o .243, o .257, os 6,5x ... , o .270, etc. Por sua vez os 7mm e o 30.06 são considerados como destruidores de carne, mesmo utilizando balas mais leves. Pessoalmente comecei a caçar corços com o .270W com bala PSP de 150 grães (9,7 gramas) e actualmente uso o .243 W com balas de 80 a 100 grães (4,5 a 6,5 gramas) .
In: A Página do Monteiro ( O CORÇO )  

2.

Gamo (dama dama)

Os Gamos são os primos direitos do Cervus Elaphus, ou no caso presente, do nosso veado ibérico. Assim, e ainda segundo os paleontologistas, quer o veado quer o gamo são originários de uma primeira espécie de veado de grande porte, com hastes de grande dimensão e com forma palmeada que existiu no período Pliocénico e que habitava as regiões turfeiras do que é hoje a Irlanda - o Cervus megaceros. Estes progenitores da espécie desaparecem, contudo, no fim da época glaciar. 
O nosso Gamo é igualmente proveniente da Ásia Central e apesar de revelar uma morfologia, hábitos e comportamentos em tudo semelhantes aos do veado, revelou também uma maior atitude de proximidade em relação à espécie humana. Tal significa que o Gamo se habituou a conviver com o Homem e que, durante muitas décadas da Idade Moderna, era mais frequentemente visto como um animal de parque (meio domesticado) do que como uma espécie de caça maior. Era normal, ao longo do século XIX e em alguns países da Europa, as grandes mansões terem em liberdade exemplares da espécie que faziam as delícias dos nobres visitantes por se aproximarem destes para aceitar as guloseimas que lhes eram oferecidas.
Por outro lado o Gamo também existiu sempre em liberdade na Natureza e no estado selvagem, revelando todas as características dos animais bravios. Olfato apurado, visão sagaz e sempre muito desconfiado coma presença humana, para além de uma capacidade incrível de se aperceber do que pode ou não constituir uma ameaça ou situação de perigo.
Tal como os restantes cervídeos, revela igual dimorfismo sexual (ver a página do veado) e igual espírito gregário com os mesmos comportamentos do Veado. São, contudo, cervídeos de menor porte já que o peso máximo dos machos adultos rondará os 100 kg. Reprodução idêntica, semelhante período de gestação e período de cio posterior ao do Veado (enquanto época de cio do segundo começa em Setembro e se prologa até meados de Outubro, o cio do gamo - designado por RONCA - tem o seu momentum em Outubro).


Em Portugal o gamo foi sempre apreciado pelas gentes uma vez que a sua sobrevivência, durante o século XX se deveu à conservação de alguns núcleos populacionais nas propriedades da casa de Bragança, já várias vezes referidas. Tal como o veado a espécie esteve extinta nos terrenos abertos (ditos livres). Contudo, na segunda metade da década de 80 do século passado, com a publicação da nova Lei da Caça que passou a permitir e a implementar a Caça Maior (Lei 30/86), o Gamo foi introduzido em zonas de caça ordenada (Zonas de Caça Turística e Nacionais), regressando assim às lides cinegéticas. Foi o caso de algumas Z.C.T.s do distrito de Beja, de Évora, de Portalegre e de Castelo Branco, para citar apenas algumas. Por sua vez, a ocorrência de alguns "desastres" em vedações de Z.C.T.s durante a época invernal permitiram que esta espécie tenha começado a povoar igualmente os terrenos de caça não vedados, sendo vulgar, actualmente, encontrar gamos em liberdade em várias regiões do Alentejo.
E tal como nas restantes espécies os gamos aumentam de corpulência e de peso bruto à medida que nos deslocamos, na Europa, para Oriente, devido às melhores condições de alimentação e de mais favorável Habitat. As imagens acima revelam exactamente essa diferença de corpulência, patente não só na estrutura física como até na coloração do pelo dos animais. 
No que se refere à caça, o valor do gamo está representado pela qualidade do seu troféu, cuja evolução revela grandes semelhanças com a evolução do troféu do veado. De igual modo as hastes caem todos os anos e voltam a renascer apenas com um mês de diferença em relação ao veado (tal como acontece com o cio); as fêmeas também parem em média uma cria por ano; consomem o mesmo tipo de alimentação e a má nutrição ou o estado sanitário têm idêntica influência na qualidade do troféu; a forma de determinação real da idade é a mesma e a análise das classes de idade pode ser feita pelo mesmo processo.. 
O Gamo também atinge o desenvolvimento completo do troféu por volta dos 7 anos de idade, considerando as condições normais de vida; e tal como o veado, a partir desta idade, o troféu apenas pode melhorar em termos de grossura, peso e eventual aumento dos recortes da palmas. 
No que se refere aos processos de caça mais adequados para obtenção de um troféu de gamo, o primeiro a referir é, sem dúvida, a aproximação; no entanto, tratando-se de um animal de menor porte habituado a viver em áreas povoadas, o gamo consegue movimentar-se quase de forma furtiva pelo que, na caça de aproximação, se torna necessário andar pouco e devagar e observar muito toda a área envolvente. 
Também se pode caçar de Montaria ou de batida; no entanto, pela experiência que tenho de caçar gamos por estes processos, considero não serem os mais adequados pela dificuldade de conduzir os animais aos postos previamente definidos: acontece, com frequência, observarem-se dezenas de gamos na mancha a bater e durante a jornada de caça ninguém lhes põe a vista em cima; terminada a montaria ou a batida reuniam-se a pastar calmamente à vista de todos, parecendo saber que a "guerra" já tinha terminado.
Igualmente eficaz e bastante mais descansado é o processo de caça de espera à água, no verão, ou à comida, quando nas alturas de menor quantidade de alimento se lhes disponibiliza o que necessitam em comedouros artificiais. Neste caso desde que o caçador esteja "bem colocado" os gamos entram com facilidade, permitindo assim uma fácil identificação da qualidade do troféu e um tiro ainda mais fácil. 
Por outro lado, quando se caçam gamos, torna-se imperioso colocar bem o tiro. Há quem diga que quanto mais pequeno mais ladino e apesar do gamo revelar um espécie de fraqueza nata o que é verdade é que, mesmo atingidos de forma mortal, revelam grande resistência e normalmente "ficam" mais longe do que se espera. Por vezes, os ferimentos deixam de largar sangue e o gamo é considerado como perdido, podendo, no entanto, estar morto 100 ou 150 metros mais adiante. Portanto, muito cuidado no momento do tiro e não se isentem de uma procura pormenorizada de indícios de ferimento, com o objectivo de se cobrar um animal que possa não ter revelado uma reacção nítida de ter sido atingido.
Sobre os calibres mais adequados, novamente se repete a informação anteriormente prestada - todos a partir do .243, segundo o gosto e habilidade de cada um. 
In: A Página do Monteiro ( O GAMO ) 


3.

Javali (Sus Scrofa)

O Javali é, por excelência, a espécie rainha da Caça Maior não só em Portugal, como também em praticamente todo o continente Europeu. Este animal desperta uma paixão incalculável em quase todos os praticantes desta modalidade de caça, por um lado pela quantidade de efectivos existentes, e por outro pela facilidade com que prolifera em quase todo o tipo de terrenos. 
Apesar de ter preferência por zonas de maior e mais denso coberto vegetal do tipo bosque e sub coberto mediterrânico, é fácil encontrá-lo também em zonas mais nuas de vegetação ou apenas cultivadas. A espécie revela uma invulgar capacidade de adaptação a muitos e diferentes tipos de ambientes, com o único senão de não lhe faltar a alimentação ( igualmente muito variada) e a água (é pouco provável encontrar javalis em zonas demasiado áridas ou secas). Revela, ainda, um elevado grau de nomadismo (capacidade de deslocar de umas regiões para outras conforme os hábitos da espécie, o clima, a disponibilidade de alimento ou ainda - sendo este o factor mais importante - a tranquilidade na zona). 
A espécie revela igualmente uma invulgar robustez física, dado que é pouco afectada por doenças virais ou epidémicas sabendo-se que a sua taxa de mortalidade por estes motivos é muito baixa (inferior a 3% dos efectivos de qualquer região), apresentando também uma taxa de reprodução muito elevada associada a uma taxa de mortalidade post natal muito baixa ( as fêmeas atingem a maturidade sexual cerca dos 8-10 meses de idade, e enquanto a primeira camada é de cerca de 3-4 crias, nas restantes parições este valor quase que duplica.)
Por estes motivos e de uma forma geral podemos dizer que existem javalis em praticamente todo o lado.
Dados os factos enunciados, poderemos questionar-nos então porque não está a espécie em vias de extinção, considerando o número oficial de animais abatidos anualmente, de forma legal, ao longo do território nacional (os números oficiais apontam para uma média de 3 000 a 4 000 exemplares por ano); os valores reais são, contudo, muito superiores aos números oficiais, uma vez que nestes quantitativos não estão considerados o furtivismo e os restantes processos não declarados. Calcula-se que este valor possa, realmente, triplicar .
A resposta está no facto do Javali ter uma actividade predominantemente nocturna, e ser dotado de alguns sentidos ultra sensíveis - olfacto e ouvido - defendendo-se dos predadores mais frequentes, neste caso o Homem, de uma forma extraordinária. Sendo o homem o único predador sistemático da espécie, o animal habituou-se a pressentir a sua presença e a evitar o mais elementar contacto visual. Pelo que a sua caça se torna altamente atraente por difícil e incerta, apesar da evolução dos meios de caça actuais.
As imagens que se seguem pretendem ajudar a identificar a presença destes animais no seu ambiente natural.
In: A Página do Monteiro (O JAVALI) 


4.

Muflão (ovis amon musimon)

Este animal é seguramente o mais estranho e o mais desconhecido da maioria dos caçadores portugueses. Primeiro porque não é uma espécie originária da Península Ibérica tendo, no entanto, aqui sido introduzido pelos Romanos, e em segundo lugar por serem muito poucos os núcleos populacionais existentes no nosso país, apesar de, nestes, os efectivos atingirem por vezes números significativos. 
Pertencente à família dos ovídeos (Ovis), afirmam os Paleontologistas ser este o antecessor do carneiro doméstico. Assim e teoricamente, todos as espécies de carneiros e ovelhas que hoje se conhecem, seriam descendentes do Muflão da Córsega (designação usual da espécie por ser esta ilha o local de origem do muflão). Logo é uma espécie de caça maior completamente distinta das restantes que neste domínio foram já apresentadas. 
De coloração acastanhada que escurece à medida que a idade dos animais aumenta, o muflão macho exibe, quando se torna adulto, uma mancha branca de cada lado do dorso (designada por cela) e ainda um dimorfismo sexual nítido, patente no facto de apenas os machos possuírem hastes (cornos) de forma circular e que se desenvolvem inicialmente no seu sentido posterior formando depois um círculo até atingirem, por vezes, o aspecto de um círculo completo. E este é o troféu de caça do Muflão.
Enquanto animal bravio, o muflão, apesar de exibir umas orelhas de tamanho mínimo, apresenta capacidades equivalentes às das restantes espécies de caça maior, mas que me arriscaria a dizer muito mais desenvolvidas. O Ouvido consegue detectar o mais pequeno rumor a distâncias superiores a 200 metros. A capacidade visual em nada se compara com a seu descendente doméstico, já que frequentemente nos observa do alto de uma escarpa muito antes de nos termos apercebido da sua presença. Do Olfato, em contrapartida não se apercebe uma acuidade fora do vulgar mas tão somente aquela que é característica dos animais bravios. Para além disso evidencia uma capacidade de adaptação ao habitat extraordinária, bem como uma resistência física indescritível. 
Apesar de se dar bem em qualquer tipo de coberto vegetal a espécie prefere as regiões mais declivosas e rochosas, por estas constituírem um factor defensivo mais favorável, pelo que, existindo estas, é ali que devemos procurar estes animais. 
Associado a esta capacidade de adaptação está o seu tipo de alimentação. Sendo um herbívoro por excelência, o muflão consome tudo o que a Natureza lhe disponibiliza desde as plantas leguminosas e forrageiras, passando pelos diferentes tipos de frutos silvestres, chegando a subsistir, em períodos de carência alimentar, à custa do simples mato e das estevas, sem por isso revelar perdas de peso ou enfraquecimento. Revela uma grande apetência por frutos de maior teor de açúcar, frequentando igualmente bem, as pedras de sal gema. 
De uma forma mais geral e em termos alimentares, podemos comparar o muflão com a cabra doméstica. 
Gregário, constitui grupos mistos sendo vulgar os machos acompanharem as fêmeas e respectivas crias, por vezes em número de indivíduos que pode ultrapassar as duas dezenas.
Apesar de terem um período de reprodução definido (de Outubro a Dezembro) e de a gestação durar cerca de 5 meses, as fêmeas parem com frequência (em ambiente selvagem) duas crias, facto este que facilita um incremento rápido dos diferentes efectivos populacionais. 
Outro atractivo da espécie é a rapidez de desenvolvimento do troféu dos machos que, por volta dos 4 anos de idade, exibem já uma armação com cerca de 50 cm de comprimento.
No que se refere à existência da espécie no nosso país, os primeiro exemplares foram introduzidos nos princípios da década de 90 em algumas (poucas) Zonas de Caça Turística constituídas na Região Centro e no Alto e Baixo Alentejo, mas sempre em áreas vedadas com malha cinegética ( 2,20 m de altura). Os povoadores foram todos originários de diferentes regiões da vizinha Espanha, tendo os efectivos convivido frequentemente (quer na origem, quer no destino) com javalis e veados também existentes nas ditas Zonas de Caça. No entanto a sua facilidade de adaptação fez com que o seu desenvolvimento se sobrepusesse ao das outras espécies, facto este que levou os serviços competentes a exigiram às entidades gestores a realização de estudos de impacte ambiental morosos e caros, para então (e depois de levantarem montes de problemas) permitirem a introdução da meia dúzia de exemplares. 
Mas diz o ditado que Deus escreve direito por linhas tortas, e em quase todas as zonas de introdução a espécie, no seu desenvolvimento natural, cresceu tanto e tão depressa que, não comportando o espaço disponível o número de animais existentes, estes começaram a fugir delas através do mais pequeno buraco ou passadiço das redes. A facilitar esta estratégia natural de povoamento esteve o facto de, em vários Invernos e devido a enxurradas e outras intempéries, as vedações se terem rompido ou até caído por largas extensões deixando as "prisões" de portas abertas (facto este devido, por vezes, a localizações ou construções deficientes). 
E desta forma o Muflão povoou (repovoou) naturalmente as zonas envolventes, sendo vulgar observarem-se grandes grupos destes animais nas mais variadas zonas de caça abertas.
Falando agora dos processos de caça para o muflão podemos referir que todos os indicados neste tema servem, apesar de uns serem mais adequados que outros. É frequente o muflão ser caçado de montaria ou de batida mas estes não são os processos de caça mais aconselhados porque, quando entram aos postos, se deslocam em grandes corridas (muita rápidas) e frequentemente em rebanho, tornando-se muito difícil identificar um troféu razoável bem como conseguir um tiro eficaz com carabina. Raramente entram sozinhos e devagar.
Assim sendo os processo mais adequados são seguramente a aproximação (revalidando-se todos os conselhos e observações anteriormente apresentadas) e a espera, nos locais de comida e água. 
Sobre os calibres mais aconselhados para cobrar um muflão devemos tecer algumas considerações. 
Foi referido mais acima que este animal evidenciava uma resistência física inconcebível. Apesar de atingido em áreas vitais, raramente fica no sítio, se estiver de sobreaviso ou desconfiado (a adrenalina tem nele um papel muito preponderante). Para as restantes espécies dizia eu que todos os os calibres possíveis para caça maior serviam, dependendo do gosto e habilidade do utilizador. No caso do muflão ressalvo esta informação para a utilização de calibres de grande poder de parada (e não grandes calibres) carregados com pontas de grande efeito de choque (p.ex. de ponta expansiva, macia e cabeça ogival). Já os vi caírem secos a 150 m, com tiros de coluna, e quando nos aproximamos para o cobro levantam-se qual bêbado e trambolhão aqui, levante ali, arrastam-se para o mais denso coberto vegetal de onde só se tiram com ajuda de um cão. Já os vi ficarem com coração e pulmões desfeitos, atirados com o 30.06 de ponta expansiva e correram 200 metros sem deixarem uma gota de sangue. Já os atirei com .243 e ponta expansiva de 100 grãos, sem ter cobrado nenhum; deixam sangue com fartura que, á medida que se deslocam erraticamente, vai diminuindo até que se perde irremediavelmente (e nem sempre o cão vai ou está onde faz falta). Para dizer que os melhores resultados que conheço se obtiveram com o mínimo do calibre 270 W. com ponta de expansiva de 150 grães. Assim só posso recomendar a utilização de calibres que em termos de energia disponibilizem, pelo menos, 2 000 joules a 100 metros da boca do cano.
In: A Página do Monteiro ( O MUFLÃO ) 

5.

 Veado (Cervus Elaphus)

Os Veados são os mamíferos de maior porte e dimensão existentes actualmente na Europa Ocidental. Segundo os Paleontologistas estes animais apareceram à cerca de 30 milhões de anos na Ásia Central, com características morfológicas muito diferentes das actuais. Por essas épocas ainda não eram providos de hastes ramificadas. A evolução para o aspecto actual só se iniciou à cerca de 10 milhões de anos, momento a partir do qual se começaram a espalhar pelo resto do mundo. Apresentam o aspecto actual desde à 250 000 anos. Os cientistas explicam o aparecimento das hastes (baseando-se no modelo evolucionista de Darwin), pela necessidade destes mamíferos se defrontarem à cabeçada, facto que primeiro levou ao endurecimento do osso frontal e à formação de protuberâncias (calos) que evoluíram, ao longo dos séculos, para as formações ramificadas que actualmente conhecemos. Revelam ainda uma outra característica, designada por dimorfismo sexual, isto é, há características físicas diferentes nos machos e nas fêmeas: só os machos são portadores de hastes. E esta é uma característica patente em todos os cervídeos (gamos, corços e restantes subespécies de veados).
Na sua proliferação espacial ao longo de milénios, os veados aproveitaram-se da existência de um continente único ( Pangêa) para se difundirem através de todo ele. Mais tarde com a separação das diferentes placas continentais que originaram os actuais continentes, o veado adaptou-se às características de cada biótipo e originou várias subespécies, todas elas derivadas do mesmo padrão biológico. É o caso do Wapiti (Elk), do Cervo Mulo (Mule Deer), do Cervo de Cauda Branca (White Tail Deer) existentes ao longo de todo o continente americano, para referir apenas algumas subespécies existentes. 
Na Europa as subespécies são, para além do padrão original, o gamo e o corço, as quais revelam características físicas e comportamentais muito semelhantes à do Cervus Elaphus.
E na origem do aparecimento das diferentes subespécies esteve (mais uma vez segundo Darwin) a capacidade de adaptação do nosso veado. Preferindo as zonas florestadas ou de coberto vegetal denso, onde tem protecção contra o clima e a alimentação variada que necessita como herbívoro ruminante, encontrou no bosque mediterrânico da península ibérica e nas matas florestais da Europa Central o biótipo ideal para a sua fixação e desenvolvimento. Este mamífero atinge um peso bruto médio, em vivo, de cerca de 150 kg na Europa Ocidental podendo este valor atingir os 300 kg nos países da Europa Central e de Leste. Aliás, no que se refere às diferentes espécies de caça maior, o factor clima e consequentemente os factores qualidade e disponibilidade de alimento fazem com que a corpulência dos diferentes animais aumente progressivamente à medida que, no espaço Europeu, se caminha para Oriente. Vive em média cerca de 15 anos e atinge a maturidade sexual por volta dos 16/20 meses de idade. As fêmeas parem, normalmente, uma cria por ano, não sendo raras as parições gémeas; contudo, a taxa de sobrevivência dos gémeos e bastante baixa quando comparada com a das crias únicas.
Apesar da sua capacidade de adaptação esta espécie é também muito sensível ás condições fitossanitárias, sofrendo intensamente as consequências de uma alimentação insuficiente ou sem qualidade. Os animais perdem peso com muita facilidade, tornam-se débeis e padecem das maleitas mais vulgares dos animais bravios - parasitismos internos e externos, tuberculose, etc . A recuperação destes desequilíbrios é por sua vez lenta e deixa, frequentemente, sequelas irreparáveis. Estes factores do meio reflectem-se na qualidade dos troféus: uma população cervídeos confinada a uma área fechada em que a alimentação seja insuficiente ou deficiente, nunca terá animais com troféus de qualidade.
Outra condicionante da qualidade dos troféus, esta frequentemente esquecida pela maioria dos gestores de caça, é a consanguinidade. Este factor é frequente nas áreas fechadas onde as populações se reproduzem, anos a fio, através de animais do mesmo sangue. Para superar esta condicionante recomenda-se a introdução de novos indivíduos (machos e ou fêmeas) provenientes de regiões diferentes da origem dos primeiros indivíduos, a cada 5 anos. Por outro lado, dado a mobilidade da espécie, em zonas abertas este factor não actua, sendo de descorar a sua influência na qualidade dos troféus.
Os veados evidenciam ainda um carácter gregário, patente na constituição de grupos sociais separados por sexos. Os machos juntam-se em grupos de indivíduos de diferentes idades, enquanto as fêmeas se reúnem em grupos familiares mais ou menos extensos, constituídos pelas mães e respectivas crias do ano e ano anterior, liderados pela cerva mais velha, a qual conduz e protege o grupo. 
Em Portugal, a espécie esteve extinta - em zonas abertas - durante os primeiros 3/4 do século XX. As poucas e raras observações de veados, em terreno livre (assim se designou até à bem pouco tempo), ocorriam em zonas fronteiriças com Espanha ( Bragança, Castelo Branco e Barrancos), enquanto nalgumas áreas muradas os exemplares existentes e até então aí conservados definhavam à mingua de gestão, de alimento em qualidade e de sobredensidade. No entanto, na vizinha Espanha, a espécie esteve sempre presente e o veado foi a principal captura de caça maior ao longo de todo o século passado, fosse em Montaria fosse em caça de aproximação ou eventualmente de espera. 
Enquanto espécie de caça, o veado fez e satisfez as emoções de milhares de caçadores, primeiro pela qualidade da sua carne e depois pelo tipo e qualidade do seu troféu. Volta a salientar-se que a caça maior é, fundamentalmente, uma caça de troféu e não uma caça de abastecimento de carne. E sobre este assunto cabe fazer a distinção entre os países da Europa do Norte ( Noruega, Suécia, Finlândia e Dinamarca) e os da Europa Central e do Sul. Para os primeiros a caça maior constitui uma fonte primordial de alimentação (baseada no armazenamento temporário para consumo próprio), acima de tudo por questão cultural e de gestão de recursos naturais disponíveis, (mas também porque nestes países a caça é propriedade do dono da terra e há neles um respeito enorme pela propriedade privada), e nos segundos a importância é posta na qualidade do troféu e no acto de caça, pelo que o valor comercial pende para a vertente turística. Nos países do Norte, o valor da carcaça do animal caçado é bem superior (felizmente para nós turistas cinegéticos) ao valor que cobram ao caçador pela sua taxa de abate. No resto da Europa a carne, actualmente, pouco ou quase nenhum valor tem e a qualidade do troféu é paga (taxa de abate) a peso de ouro. E este modelo turístico é característico dos continentes europeu e africano, enquanto que no continente americano (Canadá, América do Norte e Central e América do Sul) se adopta um modelo misto de caça de troféu (para turismo cinegético) e de consumo de carne na prática da caça não comercial. 
Em Portugal, a caça ao veado tem um valor comercial e emocional elevado. Os processos de caça a esta espécie são, fundamentalmente, a Montaria - aqui o valor comercial dos postos duplica quando se pode atirar aos veados - e a Aproximação, normalmente destinada á caça de troféus na época da brama (cio) - e nesta os valores por unidade animal cobrada são ainda mais elevados. Estes factos levam-nos a considerar cuidadosamente a evolução do troféu (só existente nos machos, repete-se), tal como a observação no campo e no momento de caça já que, de acordo com a posição em que o animal se encontra, se torna mais fácil ou difícil a sua apreciação e julgamento (são vulgares os erros de julgamento, quando não se tem muita experiência nesta área). 
Contrariamente ao javali e devido a todas as fragilidades enunciadas, o veado é uma animal que, normalmente, enfraquece rapidamente quando atingido a tiro. Pelas suas dimensões (altura ao garrote, peso e volume) deixa vestígios nítidos de ter sido atingido, pelo que a sua busca e cobro se tornam relativamente fáceis. Quando não ferido de morte, a tendência do animal é, numa primeira fase, de fuga rápida e repentina, mas logo que se sente minimamente seguro abranda o passo e pára, numa tentativa de recuperar as forças; por vezes deita-se em qualquer lugar - normalmente em zonas abertas - e aí morre. Por tanto e para além de constituir um dever de qualquer monteiro procurar e cobrar um animal ferido, torna-se imperativo cumprir com este dever no caso específico dos veados e sempre que haja o mínimo indício de ferimento. Exceptuam-se desta regra os casos dos tiros de pata, uma vez que os animais feridos desta forma conseguem deslocar-se kilómetros sem que as suas forças enfraqueçam. Por estes motivos, não se considera necessário apresentar as reacções do animal ao tiro. 
Finalmente e sobre os calibres mais adequados para a caça do veado, repetimos o que se mencionou para o caso do Javali: a partir do . 243 W todos servem, dependendo do gosto e habilidade do caçador. Pessoalmente e para evitar trabalhos de busca e cobro, utilizo um 30.06 em Montaria (mais do que suficiente se deixarmos "cumprir"), um .300 Magnum em aproximações de troféu e desbaste (porque por vezes é necessário atirar a 200 ou muitos mais metros) e finalmente o .243 em caça de espera à água ou ao cevador (porque se atira relativamente perto, com o animal descansado e se coloca o tiro onde se quer).
In: A Página do Monteiro ( O VEADO ) 


6.



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